terça-feira, 29 de março de 2011
AMANDA
Lembro de um garoto, que era filho do dono da cantina, ele estudava na minha sala, parecia ser aquele tipo de garoto lento, aquele que é bom de sacanear, mas ninguém o sacaneava, não muito, ele tinha a pecha de coitado porque era o filho do dono da cantina, crianças maldosas éramos nós, tentei algumas vezes me aproximar dele, sem sucesso, era de pouca conversa, muito fechado, alguns o chamavam de retardado, os alunos falavam baixinho pelos cantos, gente sem personalidade, pensava eu, eu gosto de gente esquisita, diferente, um dia o fitei me olhando, enquanto eu conversava com Amanda, uma vesguinha da turma, aquele olhar me incomodou, ele estava olhando para mim, para ela, ou para nós dois? nessa época achava impossível o sexo a 3, 4, 5, os anos vão passando e você descobre que número de pessoas pouco importa, tampouco a qualidade, fiquei com aquela imagem do garoto me olhando, uma imagem que perturbava, então decidi que no outro dia, iria tirar a história a limpo, ia chegar pra ele e perguntar:
- e aí maluco, o que estava acontecendo? ta me olhando por que??
mas, eu não sou de briga, e depois de pensar um pouco, vi que seria, quase absurdo, chegar perguntando, ei fulano, venha cá, ontém no recreio, você lá naquele canto, ficava me olhando com cara de sei lá o que... é, não ia dar, o jeito seria esquecer essa história sórdida, dormi com aquilo na cabeça, e no outro dia, chegando ao colégio, avistei de longe, ele, o fiho do dono da cantina, que merda pensei eu, ele parecia aguardar alguém, mãos nervosas, andando de um lado para o outro, enquanto fui me aproximando, fui percebendo seu olhar transbordar um sentimento esquisito, mas ainda estava longe, não consiguia identificar exatamente de qual se tratava, mais alguns passos e estou bem perto dele, vi nitidamente as sobrancelhas em V, os lábios cerrados, olho para trás e não há ninguém, ele começa a caminhar em minha direção, fudeu, penso eu, FUDEU!, ele me pega pelo colarinho, olha no fundo dos meus olhos e diz
- se afasta da Amanda, ou eu te mato!
ufa! ufa? é, me informando melhor, fiquei sabendo que o pai dele, além de dono da cantina, era lutador de Muay Thai, assim como o filho, depois daquele dia nunca mais nos falamos, e Amanda seguiu solitária até entrar pra faculdade, nem ele, nem ninguém, nunca soube como ela beijava.
ROLMOpis
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