Papai rico de doer, com suas extravagâncias de novo rico, ainda novo, imagine um garoto cheio de dinheiro no bolso, com uma mulher e 2 filhas pra criar, era de se deslumbrar, mas papai tinha outros planos, enquanto eu lia e relia os livros da estante dos adultos, papai, praticava com maestria as (piores) coisas que só adultos fazem, enquanto eu lia Drumont, mamãe devorava a bíblia e papai, papai devorava todas as moças e vadias da cidade, casadas ou não, foi um festival, um banquete para seu José, nessa época pouco entendia das nuances de uma relação a dois, mas mamãe entendeu, escolher Deus seria mais sensato, moveu-se na hora exata, tacada de mestre, vinham tempos dificeis e doenças nefastas, não nos contaram que estavam se divorciando, mas era nítido, o clã em pedaços, enquanto tudo desmoronava, papai tentava costurar os retalhos, mas havia perdido o fino trato, numa tarde nublada de um dia qualquer, papai nos buscou em casa, no seu carrão importado, de sorriso encabulado, com balas, presentes e o cheiro de couro, nossa, aquele cheiro de couro enebriava, sempre que o sentia, eu chorava, entre lágrimas, comprimidos e lástima, papai empalhou, ficou imóvel, ouvíamos Beatriz, som de Chico Buarque, como estava pequeno aquele imenso carro... foi então que ele nos deu a notícia, já anunciada, o silêncio foi quebrado.
E agora José?
Rollmopis

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